Medos na Infância e Adolescência – do normal ao patológico
Crianças sentem medo
sim!
Adultos sentem medo
sim!
Medo “normal”
O medo é uma das emoções básicas do ser humano. Pode ser real ou fruto da imaginação, e surge da possibilidade de dano físico, emocional ou psicológico. Embora seja considerado, muitas vezes, uma emoção “negativa”, o medo, na verdade, tem o papel de nos deixar seguros, pois nos impulsiona a enfrentar o perigo potencial.
Mas quando o assunto é o medo infantil, como os pais podem lidar com tais situações?
Por que algumas crianças, mesmo que não tenham sofrido traumas, demonstram medo com frequência?
Vamos refletir sobre isso agora e deixar algumas dicas para os pais agirem diante do medo infantil!
Como se manifesta o medo infantil?
Em primeiro lugar, é natural que as crianças sintam medo, pois é uma emoção que pode ajudá-las a serem cautelosas. Com o crescimento, os medos mudam e são reflexo das experiências inerentes ao desenvolvimento infantil e à adolescência. Veja alguns medos que costumam aparecer em cada faixa etária:
medo de rostos estranhos: entre 8 e 9 meses, os bebês podem se assustar com pessoas que eles não conhecem;
ansiedade de separação: entre 10 meses e 2 anos, é muito comum o medo de ficar longe dos pais. Isso pode aparecer quando os pais saem para o trabalho, quando vão dormir ou vão para a escola;
medo do imaginário: crianças de 4 a 6 anos criam situações ou personagens que não existem e podem sentir muito medo. Por exemplo, medo de monstros, de um fantasma sair do armário, de trovões etc.;
medo de coisas reais: surge a partir do 7 anos, quando as crianças têm medo do que ouvem falar, como bandidos entrando em casa, desastres naturais, da morte e até medo de provas;
Medos sociais: comum em pré-adolescentes e adolescentes. Normalmente os medos têm a ver com aceitação ou aprovação (aparência, novo grupo de amigos, nova escola, falar em público, passar por uma reprovação, jogar em um time).
Como os pais podem lidar com o medo infantil?
Para que as crianças aprendam a lidar com o medo infantil, muitas vezes precisam da ajuda dos pais. Então veja 4 dicas de atitudes a tomar!
1. Mostre à criança que ela está segura
O medo está diretamente ligado à insegurança. Então, quando uma crise de medo surgir, procure acalmar seus filhos e demonstrar que, apesar da sua presença ou ausência, estão a salvo. Por isso, converse com eles sobre suas ansiedades e explique que muitas crianças têm medos, mas com o seu apoio vão aprender a superá-los.
2. Sempre tenha abertura ao diálogo
Jamais ignore os medos da criança. Assim como você tem os seus e lida com eles à sua maneira, seus filhos têm os deles. A diferença é que eles ainda não adquiriram maturidade para encarar e superar o que os amedronta. Logo, deixe que se expressem e, com carinho e amorosidade, converse com o intuito de desmistificar a razão dos medos.
3. Não force a criança a fazer coisas que a deixam com medo
Existe a crença popular de que para superar o medo as crianças devem fazer aquilo que as amedronta. Porém, forçá-las a enfrentar o medo, sem oferecer uma compreensão dessa emoção, pode deixá-las com mais medo ainda e até criar crenças limitantes que se manifestaram no futuro. Então, respeite o tempo de conscientização dos seus filhos.
4. Estimule a positividade
Quando surgir uma crise de medo infantil, é preciso trazer afirmações positivas e mudar o foco de atenção da criança. Para isso, deixe-a desabafar sobre o que a aflige, mas não insista no sentimento que a amedronta. Fale coisas bonitas e traga alguma ação que a acalente. Por exemplo, você pode trazer um livro de que ela goste muito e, a partir da leitura, criar uma conversa de superação dos medos.
Como você viu, o medo infantil é mais uma etapa do desenvolvimento humano. Portanto, deve ser encarado com naturalidade, garantindo todo o suporte que a criança precisar. Então, sempre observe os comportamentos dos seus filhos, a fim de oferecer a melhor assistência.
Medo “patológico”
Existem medos que poderão traduzir a presença de patologia, sendo importante identificá-los. São caracterizados por:
Medo intenso
Preocupação e ansiedade persistentes (duração superior a 6 meses)
Medo invasivo (Exemplo: medo que interfere com a alimentação, o sono, as atividades diárias, o desenvolvimento psicológico e/ou funcional)
O objeto ou situação temidos são ativamente evitados ou enfrentados com grande angústia
Medo desproporcional ao risco real
Medo associado a temas bizarros (Exemplo: medo de cheirar mal, medo de engolir brinquedos)
Medo que não corresponde à idade cronológica
Medo que não cede a manobras de distração ou tranquilização
Medo que se associa a:
Trémulo, batimentos cardíacos acelerados, dificuldade respiratória, tonturas
Irritabilidade ou choro inconsolável
Comportamentos regressivos/imaturos (Exemplo: criança que volta a usar a chupeta depois de a ter deixado durante um longo período de tempo)
Grande suscetibilidade a críticas
Comportamentos obsessivos e/ou compulsivos (Exemplo: criança com necessidade de verificar, de forma repetitiva, se as portas ou janelas estão fechadas, sempre que entra numa divisão da casa)
É importante ter presente que quanto mais marcada a interferência do medo na vida da criança ou adolescente e o grau de ansiedade associado, mais provável será a sua duração ao longo do tempo, com possível repercussão na vida adulta.
Reforçamento e Conclusão
Para reforçar
Saber lidar com o medo
A abordagem do medo “patológico” tem como objetivo principal ajudar a criança a encontrar formas positivas para superá-lo. Passa pela tranquilização, firme e segura; pela educação e explicação acerca do medo; e por estratégias para o desconstruir, como sejam jogos que incluam o alvo do medo. A educação parental é fundamental e inclui as seguintes atitudes:
Valorizar adequadamente o medo e a reação da criança/adolescente;
Incentivar a formulação de soluções para enfrentar o objeto/situação temida (Exemplo: elaborar uma história engraçada sobre o monstro temido ou na qual a criança consegue superar o seu medo, mostrando-a como corajosa) ;
Não favorecer o evitamento excessivo, mas também não forçar para além da capacidade de adaptação;
Evitar atitudes intensificadoras do medo, como sejam, a indiferença, a superproteção, a ironia, a humilhação e as expectativas irrealistas;
Utilizar demonstrações concretas (Exemplo: mostrar a uma criança com medo de monstros ou fantasmas que não existe nada debaixo da cama, nem dentro do armário)
Esclarecimento de dúvidas (Exemplo: explicar que existem alguns barulhos que só são percebidos em ambientes silenciosos, como é o caso do som dos ponteiros do relógio e que isso é normal e não é preciso ter medo)
Introdução gradual do objeto/situação temida, com o apoio dos pais/cuidadores.
Quando procurar ajuda?
É aconselhável procurar ajuda médica, nas seguintes situações:
Dificuldade em adotar as estratégias propostas;
Persistência da situação (duração superior a 6 meses);
Presença de sintomas perturbadores das funções biológicas, como alimentação e/ou sono;
Presença de sintomas invasivos do quotidiano da criança;
Presença de sintomas causadores de sofrimento intenso.
Conclusão
Os medos são comuns e muitas vezes não têm significado maior. É fundamental uma abordagem integrada, entre pais/cuidadores e profissionais de saúde, adequada e atempada, que permita a resolução do medo, de modo a permitir um desenvolvimento saudável e feliz.
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