Vivemos com um peso excessivo carregado de culpa em nossas costas, fazendo a autocobrança se tornar cada vez mais presente em nosso cotidiano. Contudo, salientamos a ideia de que precisamos ser perfeitos e não nos damos a chance de errar. Logo, quando isso acontece, nos desestabilizamos emocionalmente.
Na atualidade, jovens e adolescentes são os que mais sofrem com essa condição. Porém, engana-se quem acha que os adultos não se cobram demais também. Existe a pressão para ser pais bons, para ser um funcionário eficiente, um amigo prestativo e diversas outras variáveis que permeiam a vida adulta.
Como a autocobrança surge?
A autocobrança surge após momentos de frustrações. Geralmente, quando nos colocamos em situações que precisamos ter uma boa performance, exigimos de nós mesmos que consigamos chegar ao nosso objetivo com maestria. Logo, não alcançar o que desejamos nos traz o sentimento de culpa, nos fazendo questionar “o que fizemos para isso acontecer”.
O sentimento de culpa e autocobrança estão diretamente interligados. Estes, são adquiridos por meio das nossas percepções, que são influenciadas por nossa cultura, âmbito familiar e a forma que aprendemos “o que são as coisas”. No entanto, a autocobrança e a culpa são consequência de um perfeccionismo interno alimentado por nós mesmos.
Sigmund Freud, por sua vez, chamava essa instância psíquica responsável pela culpa e autocobrança de superego, uma parte do nosso inconsciente que age como um juiz sobre as nossas próprias ações.
Por que nos autocobramos tanto?
Não existe causa certa para a autocobrança, mas, partindo do pressuposto de que vivemos em uma sociedade, é passível de afirmar que a cultura e os valores sociais possuem forte influência na maneira que lidamos com o outro e com nós mesmos.
Vivemos em uma época em que a imagem diz tudo. Nos comparamos com os outros a todo momento nas redes sociais e admiramos a jornada do outro ao ponto de desejá-la também para nós.
Dessa forma, sonhamos com aquilo que vemos diariamente no outro. Queremos viagens, um bom emprego, dinheiro, amigos e namorados. Sendo assim, quando não conseguimos, ficamos frustrados. Porém, quem se auto cobra, até mesmo quando consegue o que quer, acha um jeito de se autossabotar, afinal, pensa que poderia ter conseguido antes, por exemplo.
5 sinais de que você se cobra muito
Se autocobrar é praticamente um estilo de vida. Logo, se torna um hábito muito frequente, praticado todos os dias. No entanto, por ser uma verdade para quem vive, é difícil a pessoa perceber que se cobra muito, pois para ela é normal. Confira 5 sinais de autocobrança:
1. Pensar muito no “e se”
Para quem se cobra muito, pensar no “e se eu fosse de outra forma”, “e se eu não tivesse saído aquele dia“, “e se eu não falasse aquilo” é um ritual. A autocobrança impulsiona o indivíduo para tentar modificar a situação pensando obsessivamente em como poderia ter feito a situação ser diferente.
2. Se sentir frustrado com frequência
A pessoa que possui fortes traços de autocobrança se sente frustrada na maior parte do tempo. Isso pois, acha que sempre precisa desempenhar um papel perfeito em qualquer situação ou atividade em que lhe é proposta. Dessa maneira, ao estar sujeito ao fracasso, se martiriza e se sente decepcionada constantemente.
3. Achar que a culpa sempre é sua
Quando algo não sai como o planejado, o primeiro impulso é se perguntar o que há de errado consigo mesmo. A culpa e a autocobrança andam juntas e, para a pessoa que lida com a frustração de suas altas expectativas, o problema sempre vai estar nela mesma, excluindo qualquer outra alternativa.
4. Se sentir insuficiente independente da situação
Culpa, irritabilidade, negação, insegurança. Esse misto de sentimentos representam uma realidade de fato vivenciada pela pessoa que cobra muito de si. Nesses casos, a insuficiência tem o seu lugar. Nada nunca vai satisfazer de fato a pessoa e ela sempre se sentirá insuficiente, se comparando e exigindo muito de si, sem considerar suas vitórias e avanços pessoais.
5. Ter autoestima baixa e insegurança constante
As exigências voltadas para si mesmo são tão grandes que a sensação de insuficiência afeta também a autoestima, trazendo insegurança em relação a aparência, inteligência e até mesmo ao seu modo de ser. A autocobrança faz o indivíduo se achar inferior, alterando sua auto percepção.
Como não se cobrar tanto?
Exigimos tanto de nós mesmos que não temos tempo para ser gentil e entender o por quê não conseguimos alcançar nossas expectativas. Olhamos para nós mesmos com um olhar duro e agimos na crença de que merecemos esse sentimento ruim.
Logo, a primeira dica para parar de se auto cobrar tanto é de fato olhar para si de forma mais gentil. Precisamos entender que nossa jornada é subjetiva, assim como nossa história e tudo que enfrentamos para chegar onde estamos hoje.
Dessa forma, sempre que sentir culpa por não ter tido uma performance como esperava, lembre-se que você fez o possível, e isso basta. É o que importa. Além disso, se questione: você reproduziria palavras tão duras para outra pessoa assim como você reproduz para si mesmo? Por que o outro merece compaixão e empatia, e você não?
1. Determine metas realistas
Sabe as altas expectativas que você pode estar criando sobre o seu desempenho? Elas não precisam parar de existir. No entanto, quanto mais realistas as suas metas forem, mais fácil será de alcançá-las de uma maneira saudável.
Sendo assim, tente reavaliar os seus principais objetivos, separando-os entre os que são mais acessíveis no momento e aqueles que são mais viáveis no futuro. A partir disso, foque em criar metas baseadas no que você pode fazer agora, sem prejudicar o seu bem-estar e a sua saúde mental.
2 Evite comparações excessivas
Boa parte da autocobrança existe porque temos a mania de nos compararmos com as pessoas ao nosso redor. O problema é que nos blindamos de tal forma que só enxergarmos o lado bom e bonito do outro e utilizamos isso para nos inferiorizarmos.
É muito comum, portanto, se colocar para baixo porque você vê uma foto no Instagram do seu colega ou se compara quando o outro recebe uma promoção. Tal comparação é extremamente nociva e faz com que você sempre se inferiorize.
A dica aqui é substituir a comparação por inspiração, que é saudável e te impulsiona a ser uma pessoa ainda melhor. Você foca no que os outros têm de bom e usa isso para evoluir também.
3 Encontre e valorize seus pontos fortes
Ao evitar se comparar com os outros, vale fazer um exercício interno e estruturar uma comparação com você mesmo. Tire um tempinho para analisar quem você era anos atrás e quem é hoje, pontuando tudo o que conquistou, desenvolveu e melhorou.
Dessa forma, ao fazer uma autoanálise, você irá identificar seus pontos fortes e passará a valorizá-los ainda mais.
Lembre-se sempre de que nenhum ser humano está livre de imperfeições, mas que todos podem crescer. Você, assim como todos as outras pessoas, tem qualidades que devem ser exaltadas e pontos a desenvolver.
4 Celebre as suas conquistas
Quem sofre da síndrome do impostor acredita que nunca faz nada bem o suficiente e, por isso, está sempre se colocando para baixo. Que tal mudar esta postura e passar a celebrar mais suas vitórias e conquistas?
Podem ser coisas pequenas no dia a dia, como aprender a automatizar uma planilha no Excel ou um aumento de salário.
Cada pequeno passo que você dá deve ser destacado. Não deixe passar em branco e reforce como você é bom e merece estar no lugar que ocupa hoje.
5 Exercite os pensamentos realistas
Aqui vai outro exercício importante para adotar no dia a dia: sempre que pensar em um aspecto negativo sobre você, tente racionalizar essa ideia. Na prática, significa reconhecer os seus pontos fracos e aceitá-los, sabendo que toda pessoa tem defeitos e que eles não anulam as qualidades.
Por exemplo, se você sente que está em baixa na sua carreira, tente pensar nos possíveis fatores associados a isso. Pode ser a dificuldade de conciliar o trabalho com os estudos, a realocação profissional ou, até mesmo, os imprevistos que ocorreram na sua jornada. Percebe que os motivos por trás do que está causando angústia não estão diretamente relacionados com o que você fez ou deixou de fazer?
Parar de pensar de forma negativa não significa que você vai se tornar uma pessoa mais otimista da noite para o dia. A questão é que sempre dá para encarar as situações por outros pontos de vista, com pensamentos mais realistas e sem voltar a culpa para você.
6 Trate-se como um amigo
Você cobra os seus amigos na mesma intensidade com que se cobra? Esse é um ótimo parâmetro para identificar a autoexigência. Se a resposta a essa pergunta for “não”, vale a pena pensar nos motivos pelos quais você não se trata tão bem como deveria.
Pensar em você como uma pessoa amiga é outro exercício que vai ajudar a lidar melhor com seus defeitos, suas inseguranças e limitações. Além disso, é uma atitude que tem um grande potencial na promoção do amor-próprio.
7 Descubra e fortaleça suas habilidades
Sabe aquele discurso: “Ah, mas não sou bom em nada”? Isso não pode mais existir na sua vida, afinal, todo mundo manda bem em alguma coisa. Ao descobrir e fortalecer as suas habilidades você encontrará atividades e funções nas quais é competente e tem prazer em exercer.
Vivenciar um profundo processo de autoconhecimento é muito importante para entender mais sobre você, o que gosta de fazer e no que é bom. Para isso, você pode buscar auxílio de profissionais especializados, como um coaching, por exemplo.
8 Aprenda a lidar com a sua vulnerabilidade
Há momentos da vida em que você vai se sentir mais fragilizado e desprotegido, mas não pode permitir que isso te coloque em uma posição inferior.
Todo mundo convive com dificuldades e imperfeições, aceite isto. Não há razão para ter vergonha ou se sentir fraco, afinal, a vida é feita de altos e baixos.
Nos momentos em que se sentir mais vulnerável, faça disto a sua força. Ter a coragem de assumir para si mesmo e para os outros que está fragilizado não é sinal de fraqueza. Além disso, é nas horas difíceis que nos tornamos mais fortes.
Converse com um psicólogo
A psicoterapia é uma maneira incrível e eficaz de combater a autocobrança excessiva e a síndrome do impostor. A ajuda de um profissional especializado pode ser essencial para superar este ciclo de insegurança, medo e ansiedade.
Um psicólogo exerce uma escuta qualificada, portanto, é capaz de ouvir sem julgar ou dar conselhos baseados em opiniões. A escuta é inteligente e embasada e ajudará a trabalhar as suas dores da melhor maneira, respeitando a sua individualidade. Você tomará mais consciência de si, suas ações e sentimentos.
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